sexta-feira, 31 de julho de 2009

Crime em São Paulo cresce pelo segundo trimestre seguido Publicidade

A violência voltou a crescer em todo o Estado de São Paulo pelo segundo trimestre seguido. De abril a junho deste ano, os casos de assassinatos subiram 11,5% em relação ao mesmo período do ano passado -um aumento que não ocorria desde 1998. O total de roubos bateu mais um recorde histórico. Também ocorreram mais casos de estupro e latrocínios (roubo seguido de morte).

Ao todo, no período foram 1.168 homicídios (a secretaria não divulgou o total de vítimas, apenas de casos) e 68.524 registros de roubo --até então, o recorde era de 65.635 nos primeiros três meses deste ano.

Os dados foram divulgados ontem pelo delegado-geral da Polícia Civil, Domingos Paulo Neto. Ele, porém, afirmou que o crescimento da violência no Estado, em números absolutos, é "insignificante".

"Embora tenha havido um aumento em relação ao segundo trimestre do ano passado, já registramos uma queda em junho. Vamos trabalhar para manter essa inversão", disse.

Segundo Domingos Neto, em maio foram registrados 427 homicídios em todo o Estado, enquanto em junho foram 327. Uma redução de 23,4%.

"O crime de homicídio em São Paulo está controlado. O que temos que combater é o crime contra o patrimônio, principalmente o roubo", disse o delegado-geral.

Os casos de roubo tiveram queda de apenas 1,25% de maio para junho deste ano.

O delegado lembrou que, em 2000, ocorriam, em média, 15 assassinatos por dia na capital paulista. Agora, são 3,5. Mas uma alta superior a 11% nos casos de homicídio não ocorria desde 1998. Naquele ano houve aumento de 19% em comparação com igual período de 1997.

Latrocínios

Apesar de terem aumentado em relação ao ano passado, os latrocínios sofreram uma queda em comparação com o primeiro trimestre deste ano. Foram de 94 para 78, segundo o levantamento.

Após registrar um maior número de estupros em quatro trimestres consecutivos, neste houve uma ligeira queda em relação ao anterior. Foi de 1.055 para 948. Queda de 9,7%.

De acordo com Domingos Neto, o governo estadual tem atuado em três frentes para reduzir a criminalidade: aproximação da polícia da comunidade, aumento da quantidade de prisões e investimento em tecnologia da informação.

Ontem, a Secretaria da Segurança da gestão José Serra (PSDB) não divulgou os dados de violência por regiões do Estado. Segundo a assessoria do órgão, esse detalhamento será apresentado na segunda-feira.

Alegando não ter ainda todos os dados, o delegado-geral evitou dar uma justificativa para o aumento da violência. "Não dá para falar sem uma análise nas regiões do Estado. Com quase 40 milhões de habitantes, fica difícil analisar sem ter um conhecimento específico do que teria motivado esse aumento."

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Presos devolvidos pelo Rio de Janeiro chegam a Catanduvas

Eles foram transportados de avião para o Rio e retornaram ao Paraná na mesma noite após decisão judicial


Os três detentos que foram devolvidos do Rio de Janeiro para o presídio federal de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná, na noite desta terça-feira, 28, já chegaram ao seu destino, segundo a direção da penitenciária.


Eles estavam detidos no presídio federal e foram enviados na terça-feira, 28, para o Rio de Janeiro, em avião da Força Aérea Brasileira (FAB), atendendo a uma decisão da Justiça. Após nova decisão judicial, os três foram devolvidos, na mesma noite, para o Paraná.



Isaías da Costa Rodrigues, Ricardo Chaves de Castro Lima e Marco Antonio Pereira Firmino da Silva são acusados de comandar, do interior do complexo de presídios de Bangu, no Rio, ataques a bases da Polícia Militar e ônibus municipais no final de 2006. Os três faziam parte da facção criminosa Comando Vermelho.

sábado, 25 de julho de 2009

Defensoria quer presos em casa para prevenir gripe

RS

A Defensoria Pública do RS quer que a Justiça conceda prisão domiciliar aos 183 detentos que cumprem em Passo Fundo (315 km de Porto Alegre) penas nos regimes aberto e semiaberto. A solicitação aguarda parecer do Ministério Público.
Para o defensor Eduardo Pedroso, a medida poderá evitar um surto da gripe suína entre os encarcerados. Ele propõe a concessão do benefício por um período de 15 dias.
Três pessoas morreram na cidade por causa da nova gripe. Dois presos do regime fechado estão isolados desde quarta com sintomas da doença, segundo o defensor.

COMENTARIO

De fato, se esta nova gripe chegar a os porões das prisões possivelmente acarretará conseqüências seria para a saúde publica. Ocorre que a população carcerária possuem baixa imunidade somado ao ambiente muito insalubre. As deficiências das celas e da alimentação facilitam a proliferação de várias doenças, dentre elas, a tuberculose, enfermidade corriqueira nas nos corredores das prisões.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Cracolândia

Em 1999 e 2005, blitze espalharam viciados no centro


A operação iniciada ontem na cracolândia é a terceira que envolve diversos órgãos públicos na tentativa de promover a revitalização de um pedaço histórico da cidade. Com a inauguração da Sala São Paulo, em julho de 1999, foi realizada uma intervenção - principalmente policial - na região. O então governador Mário Covas dizia que o equipamento cultural marcava o fim da cracolândia. Os viciados, porém, deixaram as imediações da Rua do Triunfo para se espalharem pelos Campos Elísios. Nova tentativa do então prefeito José Serra, em 2005, também resultou apenas na diáspora dos dependentes pelas ruas do centro velho.


Saúde e Segurança divergiram

Delegado chegou a dizer que usuários seriam internados à força

Diego Zanchetta e Renato Machado - O Estado SP

Logo no início da operação na cracolândia, por volta das 9h30, houve um mal-estar entre as duas áreas que mais deveriam estar em sintonia, na opinião de especialistas - no caso, Segurança e Saúde. De um lado, Aldo Galiano Júnior, delegado seccional do Centro, declarava que dessa vez haveria internação dos viciados de forma compulsória (forçada e com determinação judicial) e que a polícia até participaria do encaminhamento. “Chegamos à conclusão que esse tipo de usuário da cracolândia precisa mesmo ser internado”, dizia o delegado nas primeiras entrevistas.

A menos de 200 metros da pensão que o seccional vistoriava com suas equipes, o secretário municipal da Saúde, Januário Montone, tentava explicar à imprensa que a internação seria involuntária (mediante laudo médico e com autorização do Ministério Público Estadual). Ao ser informado da declaração do delegado, Montone se irritou. “Primeiro que delegado não deveria falar de internação, e eu estou até sendo grosseiro.”

Montone tentou encerrar a polêmica e dizer que também não comentaria uma outra reclamação do trabalho policial feita por agentes de saúde. O fato de a polícia ter chegado antes das 24 equipes do Programa de Saúde da Família na região dispersou os dependentes e dificultou a abordagem, segundo relatos de agentes. “Não quero comentar a ação policial”, disse.

As autoridades envolvidas na operação dizem que a diferença agora é justamente a possibilidade de tratar os dependentes em hospitais da rede pública. “Não existe a necessidade de separar o doente mental do interno comum. Basta mudar uma equipe e temos um leito psiquiátrico”, acrescentou Montone. No primeiro dia do trabalho dos agentes, foram feitas 120 abordagens, com 41 encaminhamentos para abrigos e ambulatórios e cinco internações. A reportagem acompanhou uma das equipes, que abordou um menino de 12 anos (veja abaixo) e um adulto que aparentava 30, que estavam juntos numa calçada da Alameda Dino Bueno. Eles recusaram o atendimento.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Álvaro Batista Camilo, disse que a intenção ontem “não era pegar ninguém de surpresa”. “O traficante, a Polícia Civil está monitorando há dias. Não quisemos fazer pirotecnia. Focamos na pessoa que quer sair dali.”

Psicólogo vê ação com ceticismo

DA REPORTAGEM LOCAL - FOLHA SP

O psicólogo Walter Varanda, que acaba de concluir doutorado na Faculdade de Saúde Pública da USP sobre moradores de rua e uso de drogas em São Paulo, diz que as ações já adotadas na cracolândia têm o efeito de somente levar essas pessoas para fora da região central.
Segundo ele, mesmo as atuais operações, que pretendem levar pessoas para abrigos ou hospitais, podem não dar resultado, porque não combatem o principal, que é dar condições para que as pessoas se reintegrem.
“De que adianta pegar o menino da rua e confinar numa sala? Tem que oferecer alternativas. Os próprios tratamentos [de saúde] precisam ser revistos”, disse ele.
Caso contrário, argumenta, será somente uma solução temporária e somente para o centro. É que as operações policiais fazem com que dezenas de usuários se desloquem para periferias.
“É só a manutenção da imagem de que é uma ação eficiente. Aí, começamos a falar de marketing político.”
A própria rede de albergues, afirma Varanda, na maioria das vezes, não ajuda. “Limitam-se a abrigar, a dar alimentos. Não se fala em requalificação profissional, de geração de renda.”
O psicólogo diz não aceitar alegações de que não há solução para o problema.
“O que não pode é tratar com visão catastrófica, de que não existe solução. A visão é equivocada, centrada no efeito da droga, mas a patologia é outra. O problema do sujeito não é lembrado.”
A população de rua de São Paulo, segundo estima o psicólogo, alcança hoje cerca de 12 mil pessoas -menos de mil são crianças e adolescentes envolvidos com o crack.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Medo, violência e política de segurança.




Olá, Pessoal

Hoje o Blog APGSP da uma excelente dica para alunos de Gestão de Segurança Publica, ou seja, o tema explora o Medo, violência e política de segurança.

Copie o link http://www.cpflcultura.com.br/aovivo/

A historiadora Vera Malaguti Batista participa do Café Filosófico CPFL em São Paulo nesta quarta-feira, dia 15 de julho, a partir das 20h30, com o tema "Medo, violência e política de segurança". A palestra faz parte do módulo "Subjetivações Contemporâneas", de Joel Birman. Colocaremos em discussão as problemáticas do medo que colocam em pauta a judicialização da política.
Vera Malaguti Batista é Mestre em História Social (UFF), Doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ, Secretária geral do Instituto Carioca de Criminologia e autora dos livros "Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio de Janeiro" e "O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história", ambos pela editora Revan.

Participação
O público poderá participar enviando perguntas para o e-mail cpflcultura@cpfl.com.br, com o assunto “MEDO, VIOLÊNCIA E POLÍTICA DE SEGURANÇA”. As questões serão encaminhadas ao curador e poderão ser utilizadas nos encontros. As discussões também poderão ser acompanhadas pela transmissão ao vivo.


Serviço

Os encontros em São Paulo são realizados às quartas-feiras, às 20h30, no Tom Jazz (Avenida Angélica, 2331). A entrada é gratuita e por ordem de chegada, a partir das 18h30. Mais informações no site www.cpflcultura.com.br ou pelo telefone (19) 3756-8000.

Dica de livro Vera Malaguti Batista

Vera Malaguti, socióloga e secretária geral do Instituto Carioca de Criminologia (ICC), em sua tese que virou livro: O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história, trabalha o imaginário do medo no Rio de Janeiro em duas conjunturas: a história do medo na corte imperial e uma onda contemporânea de pânico na cidade. No império o período em que ocorreu a Revolta dos Malês na Bahia em 1835, e no século XX a conjuntura a partir das campanhas eleitorais de 92/94, nas políticas de segurança e nos discursos de medo presentes no cotidiano dos cariocas.


Segundo Vera, nas eleições de 92 os cariocas votaram com medo. Os adversários políticos da candidata Benedita da Silva chamaram os arrastões nas praias da Zona Sul do Rio de os “arrastões da Benedita” – e diziam que se Benedita ganhasse o caos seria implantado. Os meios de comunicação ajudaram os conservadores a trabalhar a idéia do medo no eleitorado sobre arrastões feitos por jovens negros e pobres das favelas.


Acontecimentos que governos trabalham com a difusão do medo como processo de funcionamento instigador que justifica políticas autoritárias de controle econômico, político ou social. Os meios de comunicação de massa, principalmente a televisão, são considerados hoje fundamentais para a prática do poder do sistema penal, seja através dos novos seriados, da fabricação de realidade para produzir indignação moral ou pela construção de estereótipo do criminoso.


O Medo no Século XIX


Em janeiro de 1835, centenas de escravos ocuparam as ruas de Salvador na Bahia, liderados por malês – escravos africanos muçulmanos – enfrentando tropas armadas. Foi uma rebelião organizada com grande quantidade de escravos envolvidos. Os alvos eram somente os militares, excetuando-se civis e propriedade privada, e que resultou em dezenas de mortes, prisões, açoitamentos, deportação e mesmo penas de morte como o fuzilamento. O episódio resultou num dos maiores processos contra escravos da história das Américas. Esta insurreição foi uma das causa da onda de medo que agitou o Império.


A ocupação dos espaços públicos pelas classes dominadas produz fantasias de pânico do ‘caos social’, que se baseiam nas matrizes constitutivas da nossa formação ideológica.


Em 1849, o Rio de Janeiro tinha a maior população escrava urbana das Américas. A preocupação com a segurança se dava em todos os níveis. A partir da Revolta dos Malês, desenvolveu-se uma paranóia de defesa da propriedade. Os meios de difusão do medo eram a imprensa, o teatro religioso, as gravuras e a pregação nas igrejas.


O importante aqui na história do medo nos dois tempos, não é o que os discursos, mensagens e representações proclamam, mas principalmente o que escondem. No Brasil, a propagação do medo do caos e da desordem tem sempre servido para produzir estratégias para neutralizar e disciplinar o povo. O medo é a porta de entrada para políticas autoritárias e genocidas de controle social. Sigmund Freud dizia que a sociedade moderna passou a limitar a liberdade em nome da segurança.


Na sociedade brasileira a chegada do negro estremeceu a segurança cotidiana dos brancos. O negro seria a síntese da sujeira, insegurança, causador da impureza e desordem social, motivo para uma nova ordem ser introduzida.



O Medo Hoje



Nos dias atuais, os atos contra impureza dão-se em ações punitivas contra moradores da ruas, vagabundos, ociosos e a busca da ordem urbana contra camelôs, flanelinhas e mendigos pois estão fora de um mundo estético desejado e produzem mal-estar e insegurança. Para deter os indesejados marginais, encarcera-os. Encarcerando-os aumenta a indústria prisional, a polícia, os tribunais, os advogados, os equipamento prisionais. Mas se aumenta a população carcerária é porque aumentou o número dos desempregados, ou seja, os que não podem mais consumir e ter vida social.


Na cultura do narcisismo que vivemos, sempre segundo Vera Malagute, a sociedade do espetáculo exalta a individualidade, o que nos impede de enxergarmos o outro. As pessoas se sentem desamparadas e isto produz perturbações na alma e ao mesmo tempo a demanda e a oferta por drogas legais e ilegais é imensa. Como as drogas alteram estados da consciência são poderosas e mágicas frente ao terror e ao desamparo do indivíduo entregue a própria sorte. Na pós-modernidade a incerteza é um estilo de vida.


Há uma tendência para criminalizar o precário, deslocando tudo o que é público para o penal, um exemplo foi a operação “tolerância zero” em Nova York ao criminalizar pequenos delitos geralmente associados a pobreza: prisões de mendigos, bêbados, limpadores de pára-brisa, prostitutas. Em São Paulo preparou-se uma operação no estilo prendendo a população de rua. Prisões são fábricas de exclusão, e para o Estado, técnicas de obediência obrigatória que podem funcionar contra as multidões crescentes de desempregados é a construção de um gigantesco sistema penal.


Para se entender os direitos humanos no Brasil hoje, a socióloga defende que, antes, deve-se entender os efeitos históricos da instauração de um regime escravocrata e a implantação de um sistema penal do Estado Imperial de homicídio, mutilação e tortura da população afro-brasileira.

“No discurso de hoje, dizer que a juventude pobre é suja, imoral, vadia e perigosa formam o controle social no Brasil e informa o imaginário social para as explicações do problema da violência urbana”, afirma Vera.


A sociedade torna legítima a violência policial se a vítima é um suposto traficante. O mercado de drogas ilícitas favoreceu argumentos para uma política de violação dos direitos humanos contra jovens negros e pobres das favelas cariocas. Para muitos o discurso e as políticas de lei e ordem é produzida para justificar tortura e execuções de negros e pobres.


Quando o Papa João Paulo II esteve no Rio de Janeiro em 1997, foram mortos doze suspeitos. Os meios de comunicação não deram manchetes deste fato e o mesmo também se repetiu com execuções dos suspeitos do caso do assassinato do jornalista Tim Lopes.


A mídia preocupou-se com a queima de arquivo dos suspeitos, do que com as execuções em si. A divulgação pela mídia de imagens do terror produz políticas violentas de controle social. Nos dias atuais no Brasil milhões de pessoas não têm sequer certidão de nascimento ou carteira de identidade. Se estes são mortos por grupos de extermínio, nem são considerados desaparecidos, porque não existem juridicamente, são os desaparecidos de nascença.


Cidades Partidas


Existem pessoas partidárias do conceito do Rio de Janeiro como a “cidade partida” em que no contraponto estão favela e asfalto. Numa vigora a lei, na outra a mídia dá manchetes sobre favelas como lugares onde o império do terror domina, império do caos, a ameaça das favelas ao asfalto.

Discursos midiáticos que se referem a favela como lugar do mal são muitos. O governo precisa que a população sinta medo para levar a cabo suas políticas de controle social nas favelas ou nas prisões, herança escravocrata que aniquila pelo corpo e alma outros impuros.


Uma questão de invasão que causou estranhamento nos freqüentadores e trabalhadores em um shopping da Zona Sul do Rio, o Rio Sul em 2000, foi quando integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) foram passear no shopping. Para muitos, aquelas pessoas foram consideradas empecilho à higiene, limpeza e a ordem que vai contra os princípios da estética do shopping. Aqueles sem-tetos causaram mal-estar, angústia, apreensão, constrangimento e medo. Os comerciantes tiveram prejuízos no dia.


Na década de 1830 o Rio de Janeiro tinha aproximadamente cerca de 125.000 habitantes sendo que 44,4% eram de escravos. O Rio era considerada uma cidade africana.

Ainda assim, lembra a pesquisadora, o medo branco das insurreições escravas em 1835 faz com que seja editada uma lei de pena de morte para qualquer delito escravo contra o senhor, o feitor ou seus familiares.


Leis municipais puniam comerciantes com multa e prisão caso permitissem que um negro demorasse mais tempo que o necessário para as compras no estabelecimento. Batuques e algazarras eram punidos com prisão. O número de açoites era conforme a idade e robustez do escravo. Alugar uma casa a escravo: oito dias de prisão. Uma senhora podia costurar a língua da escrava com o lábio inferior.


Instalado Dom João e família, criou-se no Rio de Janeiro a Guarda Real de Polícia encarregada de manter a ordem e perseguir criminosos. Para fazer parte da guarda, o requisitos necessários dos candidatos eram que fossem pobres e com fama de violentos. A guarda usava métodos de terror e brutalidade em plena praça pública como surrar um suspeito (escravo) fazendo com que as carnes deste descascassem antes mesmos deste ser julgado. Em 1850, 65% das detenções eram por ofensas públicas e não crimes, nesta época o açoite sai da rua e vai para a prisão em um processo modernização do sistema de repressão.


Tecnologia e medo


A revolução tecnológica do século XX abriu caminho para uma nova etapa de poder da globalização. O poder público precisa mais do que um discurso político, precisa também das agências de comunicação. Políticos não pautam, são pautados. Vera cita em sua tese diversas falas do seu marido Nilo Batista que foi secretário de Polícia Civil de Justiça e vice-governador o Rio de Janeiro de Leonel Brizola (1990-1994): “Nunca sabemos se, em nossas pequenas transgressões diárias, teremos alguma câmara escondida”, daquilo que Batista denunciou como a maior delegacia de polícia do Brasil, o Jornal Nacional.


Vera destaca em um capítulo do livro a medicina do século XIX, principalmente da década de 30, investimentos em higiene pública e maior demanda da polícia sanitária cujo alvo era a população das cidades. Preocupação com ruas cheias de africanos e medo, fezes à deriva, sujeira por toda parte. Para os brancos, os africanos eram tão perigosos quanto as doenças endêmicas.


Artigos da época ressaltavam como era perigoso entregar bebês às amas-de-leite negras para o aleitamento já que, de acordo com a inteligência médica, através do peito das negras as crianças brancas sugavam todo tipo de vícios. Muitos senhores de escravos jogavam fora nas ruas e praças seus escravos doentes agonizantes e nus tal como jogavam lixo. Eram tantos mortos nas ruas que os viajantes estrangeiros não precavidos que chegavam à cidade ficavam horrorizados. Hoje traficantes-favelados-negros mortos pela polícia têm os corpos amontoados nas lixeiras da cidade e em carrinhos de mão, tudo televisionado.


___________

O Medo na cidade do Rio de Janeiro: Dois tempos de uma história

Vera Malaguti Batista

Ed. Revan

Rio de Janeiro, 2003

domingo, 12 de julho de 2009

Cabo faz trabalho social no interior de São Paulo

Único responsável pelo policiamento do distrito de Frutal do Campo, na cidade de Cândido Mota, o cabo Jorge Rodrigues dos Santos, 47, procura atendimento médico, advogado, carteira de identidade, trabalho e cesta básica para os moradores da região.
Para ele, "a polícia não está aqui só para a segurança". "Fazendo isso [trabalho social], evito que o crime aconteça", disse o policial.
Há nove anos trabalhando no mesmo posto -a média na área urbana é de três anos-, o policial afirma que a convivência com os moradores da região não diminui sua autoridade.
"Tem que saber separar. Respeito os moradores nas suas funções e eles têm de respeitar a minha", afirmou.
Para o sociólogo Orlando Pinto de Miranda, que defende o modelo de segurança comunitária, o atendimento social ajuda a corporação a recuperar sua imagem e conseguir a colaboração e a confiança dos moradores.

Brasil adota modelo japonês de polícia

Governo enviou agentes ao Japão para serem treinados nas técnicas de policiamento comunitário existente no país

No "sistema Koban", o agente trabalha com a população para prevenir situações que possam facilitar a ação do criminoso



Após o fracasso de diversas tentativas de instalação de polícia comunitária no país, o governo federal decidiu importar do Japão um modelo para aproximar mais a Polícia Militar da população. Agentes de 11 Estados participam de um curso para a implantação do chamado "sistema Koban" no Brasil.
O método oriental está em implantação em São Paulo desde 2004. Policiais paulistas vão dar os cursos para colegas de outros Estados, com supervisão de agentes japoneses.
O convênio da Secretaria Nacional de Segurança Pública com a Agência de Cooperação Internacional do Japão e a PM de SP pretende formar 360 policiais até 2010. Eles serão multiplicadores em seus Estados.
O modelo japonês consiste na mudança da rotina policial. A linha tradicional se pauta pelo atendimento de ocorrências ou prevenção de crimes pela ronda policial.
No "sistema Koban", o agente policial trabalha com a população para prevenir a ação de criminosos.
Neste modelo, o policial deve fazer visitas aos moradores e comerciantes para saber as necessidades da comunidade. Ele trabalha em média três anos na mesma região.

Trabalho social
O sistema incentiva que o policial faça "trabalho social" onde atua: encaminhar idosos a médicos, jovens a projetos sociais e intervir junto a órgãos públicos por melhorias na região. Para os defensores do modelo, o não atendimento destes pedidos -a rigor "não policiais"- podem gerar um problema de segurança pública.
"Nosso policial é treinado para ser um caçador na busca de bandidos. Ele poderia fazer um trabalho de prevenção com a população", afirmou o capitão Cristiano Guedes, coordenador dos cursos na Senasp.
São Paulo tem 54 Kobans (postos urbanos) e 29 chuzaishos (rurais), que são as bases físicas do sistema. Mesmo no início, o modelo já é bem avaliado.
A base considerada modelo pela PM paulista está instalada no Jardim Ângela. Ali, após investimento social, a taxa de homicídios caiu de 60 por 100 mil habitantes em 1999 para dois casos neste ano, diz a polícia.
"O policiamento comunitário é menos a lógica de responder ao 190 e mais a de criar um policiamento que tem a ver com aquela área", disse Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz.
A "lógica do 190" ainda fica clara em números. No Japão, 35% do contingente atua no policiamento comunitário. Em SP, apenas 3% dos PMs atuam nessa atividade e um terço faz parte do programa de radiopatrulha -atendimento de ocorrências enviadas a uma central.
Para o sociólogo Orlando Pinto de Miranda, coordenador de pesquisa nacional sobre o tema, há indefinição no Brasil sobre o que é polícia comunitária. Ele diz que a popularidade do "selo comunitário" espalhou o termo sem que o modelo fosse adotado. "Toda forma de policiamento local foi chamada de polícia comunitária", afirma.
Miranda elogia o sistema adotado em SP, mas afirma que a boa avaliação ainda parte de "resultados tópicos".
Para ele, a principal dificuldade para sistematizar o modelo é a grande resistência dentro das corporações e a formação deficiente dos agentes.

Polícia depende da população, diz cônsul
Responsável pelo consulado japonês no Rio trabalhou no planejamento do policiamento comunitário em seu país

Para Yasuaki Ishii, que é policial, sistema no Japão é o símbolo da segurança; "Isso está arraigado na cabeça das pessoas", afirma



Policial há 28 anos, Yasuaki Ishii, 47, cônsul do Japão no Rio, afirma que o sucesso do policiamento comunitário depende também dos moradores da região atendida. Ishii, que atuou no planejamento do "sistema Koban" no Japão, afirma que, ao mesmo tempo, a polícia deve mostrar à comunidade qual sua função no local e o que a corporação pode fazer pela população. "A maioria das pessoas sabe que a polícia existe, mas não o que ela faz". Leia trechos da entrevista, concedida em japonês, com uma tradutora.



FOLHA - Como sair da polícia reativa para comunitária?
YASUAKI ISHII - Não seria uma tarefa somente da polícia. Temos que pensar o que é necessário além da mudança da estrutura policial. É imprescindível a colaboração da comunidade. O Koban no Japão é o símbolo da segurança. Isso está arraigado na cabeça das pessoas. A polícia precisa ser bem recebida.

FOLHA - Mas em muitos locais não se confia na polícia.
ISHII - É importante transmitir para a comunidade o que a polícia está fazendo por ela. A maioria sabe que a polícia existe, mas não o que ela faz. Por outro lado, a polícia não sabe o que a comunidade gostaria que fosse feito. É importante criar espaço para troca de opiniões.

FOLHA - Já houve problemas na instalação do Koban?
ISHII - Muitas vezes, o policial desconhece o que tem que fazer. Ele está trabalhando no posto, mas não sabe as suas funções. O posto existe como estrutura física, mas o sistema da polícia não mudou.

FOLHA - O policial deve atuar fora da área da segurança?
ISHII - É possível criar uma divisória clara entre o que cabe ou não à polícia? Só podemos julgar se uma reclamação tem ligação com um crime ou não depois de ouvir. Se não for cabível à polícia, encaminhe para a autoridade competente. Se esse assunto cabe à própria comunidade resolver, o policial devolve a decisão. Se você não trabalhar em contato direto com a comunidade, não vai saber nem o que deve ser feito.

sábado, 11 de julho de 2009

No Orkut, surge RPG do tráfico

Uma guerra entre facções está prevista para começar por volta do próximo dia 3 de agosto. Mas esta guerra não será real e vai acontecer na internet, entre participantes de jogos chamados RPG Terror ou RPG Favelas, que simulam confrontos entre quadrilhas organizadas semelhante aos das favelas do Rio

RPG do tráfico: polícia nega apologia. mas critica o jogo

Mario Hugo Monken, Jornal do Brasil

RIO - Alertada pelo JB sobre a existência do jogo, a titular da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Informática (DRCPI), delegada Helen Sardenberg, disse que ainda não encontrou elementos que pudessem vincular o RPG Terror a práticas criminosas.

– São indivíduos se passando por criminosos, a compra de armas é simulada, o dinheiro é virtual. Ainda não vi crime, mas estamos analisando – afirmou ela

Para Hellen, trata-se de um jogo de muito “mau gosto”, “antiético” e que deveria ser retirado do Orkut por iniciativa do site.

Dois especialistas ouvidos pelo JB também não consideram que há crime, mas criticaram o jogo.

Rodrigo Nejm, diretor de prevenção da ONG Safernet (que reúne denúncias de crimes na internet), disse que o jogo não tem nenhuma prática criminosa:

– A simulação de jogos de violência não é considerado apologia. Assim como existe este jogo, tem jogo de rituais macabros, terrorismo e de guerra. O crime só ficaria caracterizado se houvesse incitação clara para prática concreta do ato. Neste RPG, não vi isso – declara.

Nejm, entretanto, afirmou que este tipo de jogo causa um grande prejuízo social:

– Esse jogo mostra a total banalização e naturalização da violência. Ninguém se beneficia disso – reclamou.

Ativista de liberdade na internet, o sociólogo e professor da Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, Sérgio Amadeu da Silveira, afirmou que é preciso tomar cuidado com grupos que discutem no Orkut.

– Muitos marcam encontros violentos pelo site – alertou ele, que concorda que esses jogos são desaconselháveis. – Mas não existe correlação entre os games violentos e o aumento da violência.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Corregedoria indicia 14 policiais por achaques a Abadía



São Paulo - A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo indiciou 14 policiais em quatro inquéritos diferentes sob a acusação de terem extorquido pelo menos R$ 2,7 milhões dos traficantes colombianos Juan Carlos Ramirez Abadía e Ramón Manoel Yepes Penagos, conhecido como El Negro. Outros três policiais são suspeitos, um dos quais obteve no Tribunal de Justiça uma liminar para que não fosse indiciado no inquérito.

Ao todo são investigadas cinco extorsões praticadas por policiais contra os colombianos e integrantes de suas quadrilhas. Abadía, que foi extraditado em 2008 para os Estados Unidos, era o chefão do cartel do Norte do Vale quando foi preso em 2007 pela Polícia Federal em São Paulo. Logo depois, descobriu-se que ele pagou resgate de três de seus subordinados e da mulher de um deles, sequestrados e achacados por policiais de Diadema, do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), todos da polícia de São Paulo.

El Negro é o traficante que teria convencido policiais do Denarc de que era mineiro de Borda da Mata, dizendo chamar-se Manoel de Oliveira Ortiz. O bandido, procurado pela Interpol por mandar toneladas de cocaína à Europa, disse que custou 400 mil para que os policiais o mandassem para a cadeia com a identidade falsa. Lá ficou incógnito até ser descoberto este ano por policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic).

No caso de Abadía, os inquéritos sobre os achaques permaneceram nas gavetas da corregedoria por dois anos. Apesar de reconhecimentos das vítimas, da apreensão de carro dado para pagar suposta propina e das provas da PF, nenhum policial civil era indiciado.

O imobilismo durou até abril, quando a nova diretora da corregedoria, delegada Maria Inês Trefiglio Valente, pediu cópia ao Ministério Público Estadual da fita de vídeo em que Abadía fazia as revelações. "Para acabar com o tráfico de drogas em São Paulo, basta fechar o Denarc", disse o colombiano aos promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco).

Em junho, o secretário da Segurança, Antônio Ferreira Pinto, decidiu pedir cópias das investigações e constatou que havia indícios suficientes de autoria. Ferreira lamentou a demora das investigações, o que teria prejudicado o trabalho de obtenção de provas. Em menos de 20 dias, o delegado Caetano de Paulo Neto, presidente dos inquéritos, indiciou a primeira leva de policiais suspeitos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Polícia investiga suposto atentado contra agente de presídio em Campo Grande (MS) Publicidade

RODRIGO VARGAS
da Agência Folha, em Cuiabá


Uma granada de efeito moral explodiu na madrugada de domingo (5) na casa de um dirigente do sindicato que representa os agentes do Presídio Federal de Campo Grande (MS), que não teve seu nome divulgado. A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul investiga as circunstâncias do suposto atentado.

Os estilhaços do artefato causaram danos a um carro estacionado na garagem da casa. O sindicato atribuiu o episódio a uma série de denúncias encaminhadas no ano passado contra a administração da unidade.

À Folha o diretor do sistema penitenciário federal, Wilson Damázio, lançou dúvidas e cobrou investigações sobre o suposto atentado. "É algo muito estranho", disse.

Ele afirma que as denúncias do sindicato, como a de que um sistema ilegal de gravações foi instalado no presídio, foram desmentidas por investigação aberta pela Polícia Federal. Afirmou ainda que as acusações foram feitas para "chantagear" a direção do presídio.