quinta-feira, 5 de março de 2009

DVD reforça suspeita sobre ex-secretário

Gravação registra conversa com o ex-sócio e primo de Lauro Malheiros Neto, que foi adjunto da Secretaria da Segurança

Em um trecho, ex-sócio menciona "200, 300 paus" ao falar sobre possibilidade de venda do cargo de delegado do Detran

Um DVD em poder do Ministério Público Estadual reforça as suspeitas sobre a existência de um esquema de venda de cargos na Polícia Civil de São Paulo durante a gestão de Lauro Malheiros Neto (2007-2008) como secretário-adjunto da Segurança Pública.
As gravações, feitas com uma câmera oculta, registram uma conversa de uma hora entre o advogado Celso Valente, ex-sócio e primo de Malheiros, um policial civil (identificado só como José Luiz, marido de uma procuradora de Justiça) e seu advogado (que estaria com a câmera num óculos). O teor do vídeo foi divulgado ontem pelo jornal "O Estado de S.Paulo". Segundo o Ministério Público, o policial era ligado a Malheiros Neto até ser investigado pela Polícia Federal, que rastreou uma quadrilha que intermediava a venda de decisões judiciais que beneficiavam donos de bingos e empresas que têm dívidas tributárias elevadas. O vídeo foi gravado, segundo a Promotoria, porque José Luiz se sentiu abandonado pelo então secretário-adjunto. Na conversa, policial e advogado tentam contratar Valente para intermediar a compra do resultado de um processo administrativo na Polícia Civil.
Os "clientes" também tentam forçar declarações de Valente que o envolvessem com o então adjunto e a venda ilegal de cargos. "Você tem que pegar alguém aí com uns 200, 300 paus na mão, entende? Aí vale a pena", diz Valente, em trecho do vídeo, em resposta à possibilidade de venda de cargo de delegado no Detran. As gravações reforçam as suspeitas levantadas pelo depoimento do ex-investigador Augusto Peña ao Ministério Público no mês passado. O ex-policial, que é acusado de furto e extorsão de dinheiro, disse que intermediou a venda de cargos na polícia entre colegas e Malheiros. Ele citou Valente como outro intermediador. Malheiros Neto deixou o cargo após a prisão de Peña em abril do ano passado, quando a ex-mulher do policial apontou a suposta ligação entre Peña e Malheiros. Ao deixar o cargo, em maio, ele disse à Folha que não conhecia Valente.
Ontem, o diretor da Corregedoria da Polícia Civil, Alberto Angerami, disse que a gravação sobre a suposta compra de cargos será investigada. Para ele, "causa estranheza" uma decisão assinada por Malheiros em benefício de três policiais civis num processo administrativo que determinou a expulsão por acusação de extorsão. Essa expulsão foi revertida em um despacho de menos de três linhas. "Geralmente, é mais bem fundamentada [os despachos]. Mas isso não é indício de nada", afirmou. Esse procedimento será investigado pela Corregedoria. Se for constatado problemas, segundo Angerami, todos os procedimentos assinados por Malheiros serão investigados.

OUTRO LADO

Advogado diz que vídeo foi editado para prejudicar o primo de Malheiros Neto

O advogado José Luis Oliveira Lima, defensor de Celso Valente, afirmou ontem que seu cliente nega taxativamente a negociação de qualquer facilidade durante investigações contra policiais na Polícia Civil.
De acordo com Lima, o vídeo entregue ao Ministério Público foi editado de maneira a tentar prejudicar seu cliente e tem conotação política.
Alberto Zacharias Toron, defensor de Lauro Malheiros Neto, disse que ele se oferece desde o mês passado à Promotoria para prestar esclarecimentos sobre as acusações feitas por Augusto Peña, mas não é chamado. "Queremos ser ouvidos."
Toron afirmou que não teve acesso ao DVD. Para ele, a gravação pode ser uma armação contra Malheiros Neto ou uma forma de Valente ter usado o nome do parente para ganhar dinheiro. "Não acredito que o primo [Valente] possa fazer isso, mas é uma hipótese".
A Folha solicitou à Secretaria da Segurança acesso ao processo da expulsão dos três policiais, mas isso foi negado. A pasta também não atendeu aos pedidos de entrevistas feitos aos três policiais civis que são investigados sob a suspeita de pagar Malheiros Neto para serem reintegrados à polícia. De acordo o porta-voz Enio Lucciola Lopes Gonçalves, trata-se de assunto particular.

Nenhum comentário:

Postar um comentário