segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ações da PF aumentam busca por tecnologia contra grampo

Segundo procurador, cresceu uso de aparelhos criptografados para impedir escutas

Fabricante de software que dificulta grampo diz que, após operação da PF contra a Camargo Corrêa, procura aumentou mais de 100%


O procurador da República Rodrigo de Grandis, que atua na Operação Satiagraha, deflagrada no ano passado, afirma que, a cada nova investigação, é perceptível o aumento do número de telefones ou HDs (memória de computador) criptografados, o que torna praticamente impossível o trabalho de rastreamento das conversas mantidas entre investigados.
A criptografia é um sistema que bloqueia escutas telefônicas e telemáticas (e-mail, por exemplo). Para os equipamentos mais sofisticados, ainda não foi descoberta uma "chave mestra" que permita acessar o programa, tornando a comunicação violável.
"O uso é muito típico em crimes de colarinho-branco: diante da possibilidade de serem descobertos, os investigados, que possuem elevado poder econômico, se valem de todos os expedientes para garantir impunidade", afirma.
O procurador não vê ilegalidade na venda de criptografia. "O que me parece equivocado é ela constituir um obstáculo absolutamente intransponível à investigação", diz.
A Folha entrevistou quatro diretores das maiores empresas do mercado antigrampo. Todos foram unânimes ao dizer que, após cada operação da Polícia Federal envolvendo escutas, a demanda aumenta.
"Depois da Camargo Corrêa [alvo de investigação da Polícia Federal na Operação Castelo de Areia], a procura aumentou mais do que 100%. Vou falar em números fictícios. Se antes eu vendia 30 equipamentos por mês, depois da operação já vendi 70, 80. São empresários que querem a garantia de que a comunicação deles, seja por voz ou por dados, seja inviolável", diz Cesar Bremer Pinheiro, que fabrica e comercializa software antigrampo.
"Você pode colocar todos os supercomputadores do mundo para tentar quebrar uma criptografia e não irá conseguir. Nem eu, que fabrico, tenho a senha de acesso, isso não existe", afirma Pinheiro.
Esse tipo de tecnologia, que não prevê uma "porta de saída" para que autoridades possam acompanhar a comunicação entre investigados, é proibida em alguns países. No Brasil não há nenhuma regulamentação sobre ela (leia texto ao lado).
Os executivos investigados na Castelo de Areia faziam "uso incessante de telefones criptografados", o que impediu a polícia de acompanhar os diálogos. Os principais indícios de suposta evasão de divisas e lavagem de dinheiro surgiram porque os interlocutores dos diretores não dispunham da mesma tecnologia.
"Ao que tudo indica, grande parte dos diálogos importantes para a investigação, estabelecidos entre Dárcio [Brunato] e Fernando [Dias Gomes, ambos diretores da Camargo Corrêa], estaria sendo feita com o uso dessa nova tecnologia [criptografia]", diz um dos relatórios da PF. No mesmo documento, diálogos interceptados mostraram que os investigados usavam "softwares militares".
Agentes da PF disseram que o uso da criptografia "demonstra a preocupação dos investigados em esconder o verdadeiro teor de suas tratativas".
A Operação Castelo de Areia levantou ainda, segundo os empresários antigrampo, uma segunda preocupação -sobre como proteger dados armazenados em pen drives e CDs.
"Depois que a PF apreendeu, na sede da Camargo Corrêa, um pen drive com uma suposta lista de políticos, muitos me procuraram com a intenção de proteger seus equipamentos eletrônicos", disse Pinheiro.
Para Breno Niero, diretor de desenvolvimento de outra empresa antigrampo, "as empresas brasileiras estão começando a entender que é preciso proteger os dados, onde quer que eles estejam, em CDs, pen drives, notebooks, etc".

Uso legal
Advogados de investigados na Castelo de Areia e diretores das empresas antigrampo dizem que os produtos não são usados para evitar uma investigação policial, mas para impedir a espionagem industrial e o roubo de informações por meio de escutas ilegais. Eles reclamam da invasão da intimidade das pessoas.
"[Os grampos] continuam sendo feito de maneira indiscriminada", diz Marcelo Copelioptch, diretor de empresa antigrampo, que defende o uso da proteção para negócios legais.
Os principais clientes são órgãos estatais, ministérios e secretarias estaduais, bancos, seguradoras, mineradoras, políticos e empreiteiras. As tecnologias mais avançadas de criptografia têm origem israelense e algumas empresas dizem que seus produtos são certificados pelo Ministério de Defesa de Israel. Os produtos mais sofisticados fazem ligação direta entre dois celulares, o que torna a escuta impossível.
O aumento na demanda pelo serviço antigrampo começou a ser notado em 2008, especialmente com a instalação da CPI dos Grampos. Neste ano, no entanto, o salto foi ainda maior, segundo estimativa das próprias companhias

Comentario desse Blog
As nossas elites (Advogados de investigados, OAB, imprensa, políticos etç ), conscientemente ainda não se deram conta de que o crime organizado também fará uso dessas nova tecnologia ,Ou já esqueceram que o PCC, faz uso de telefone Celular nos presídios ?

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