segunda-feira, 6 de abril de 2009

Criminosos fazem rifa para arrecadar dinheiro



Festa no interior de são Paulo! Mas uma festa muito estranha. Funk! Rifas e muita droga. Era uma festa para arrecadar dinheiro para bandidos que agem dentro e fora dos presídios. A reportagem é de Valmir Salaro.

A trilha sonora da chamada “Noite do pancadão" foi o funk.

Na maioria das músicas, o mesmo tema: os crimes das quadrilhas que agem dentro e fora dos presídios paulistas.

“Se mexer com ‘nois’, a bala come”.

O público, de cerca de 250 pessoas, tinha acesso fácil a bebida alcoólica e drogas, como crack, cocaína e maconha. Preço da entrada: R$ 20.

“Nós constatamos infelizmente uma presença muito grande de menores”, comenta João Santa Terra, promotor de justiça.

“Lá vai bala, oi, lá vai bala.... pum, pum...”,

“Também foram lá encontrados detentos do Instituto Penal Agrícola no regime semi-aberto que saíram em saída temporária e estavam lá também para enaltecer o evento no caso”, conta o promotor de justiça.

O baile do crime foi em uma chácara na periferia de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Fazendo apologia à violência, a festa dos bandidos acabou. No dia marcado, 21 de março do ano passado, a polícia invadiu o sítio, que tinha sido alugado pelos criminosos.

“Semanas antes da nossa operação, houve outro baile no mesmo local, Com drogas e álcool excessivo”, afirma João Santa Terra.

Para anunciar a nova “Noite do Pancadão”, cartazes foram espalhados pela cidade. E estava escrito: o idealizador era Davi Curti, conhecido como ‘Perturbado’.

O detalhe é que ele mesmo não poderia participar, já que estava preso, na cadeia de Mirandópolis, também no interior de São Paulo, onde cumpria pena por roubo. Usando interceptações telefônicas com autorização judicial, polícia e Ministério Público descobriram que o baile funk foi planejado pelo preso para arrecadar dinheiro e financiar ações criminosas.

Uma das músicas tocadas na “Noite do Pancadão” deixa isso evidente.

“A missão de quem tá fora é ajudar quem tá lá dentro”.

“Uma coisa é certa: eles falam, o dinheiro é da família, é do partido, ou seja, a denominação da facção criminosa”, explica o promotor.

Esta semana, a Justiça condenou o preso Davi Curti e, em uma decisão inédita, também a mãe dele, a ex-namorada e mais duas pessoas que ajudaram a organizar o baile do lado de fora da cadeia. As penas vão de dois a 14 anos de prisão.

“Eles começaram a vender convites. Qualquer pessoa que colabora com uma quadrilha deve ser responsabilizada também, porque a destinação é ilícita”, observa João Santa Terra.

Na quinta-feira passada, as quadrilhas dos presídios paulistas sofreram outro golpe. Vinte e duas pessoas foram presas, acusadas de chefiar o tráfico de drogas na região de Taubaté.

“Cada um tinha o seu papel nessas facções criminosas. Um atuava na parte financeira. Foi muito importante essa ação nossa”, explica o degelado Roberto Martins.

Nesse caso, escutas telefônicas autorizadas pela Justiça mostraram que, além da venda de cocaína, os criminosos arrecadavam dinheiro também de uma forma inusitada: com rifas.

Em uma das conversas, um criminoso fala, de dentro da cadeia, qual será o prêmio.

“Vale uma televisão 14 polegadas”.


“Da hora irmão, entendeu”.

“É dez real o nome, né, velhinho?”.

“É dez real”.

Anotações mostram a movimentação financeira dos criminosos. Em um dos cadernos, a polícia descobriu que, entre os prêmios das rifas, havia até cinco carros.

- Aonde você for, você leva a rifa e troca ideia com os traficantes, com os comerciantes, com os donos de bar, com os cara que tem time de futebol na sua quebrada aí, que vocês gosta de futebol também.

- Da hora, vamos fazer isso mesmo, vamos pra cima aí.

Para o Ministério Público, a condenação dos organizadores do baile funk na região de São José do Rio Preto é um aviso da Justiça: ajudar bandido a conseguir dinheiro é uma atitude que não pode ser tolerada.

“Essa sentença pode servir de exemplo para outros magistrados também terem a mesma postura na tarefa árdua que é combater o crime organizado”, afirma João santa terra, promotor de justiça.

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