RIO - O valor estimado para manter Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em todas as 1.020 favelas da capital, entre R$ 90 milhões e R$ 340 milhões por ano, como O GLOBO mostrou no domingo, não é considerado alto por representantes da sociedade e especialistas em segurança. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, alerta, no entanto, que a grande questão não é financeira, e sim a seleção e o treinamento do efetivo em curto tempo. O governador Sérgio Cabral enfatizou que o programa das UPPs vai avançar, embora o processo seja lento.
- Esse é um trabalho sem volta, firme. Estamos provando que é possível. Infelizmente, ainda há muitas comunidades vivendo uma situação dramática, dominadas pelo tráfico ou pela milícia. O futuro é esse: ampliar a presença das UPPs nas comunidades. Mas é preciso compatibilizar estratégia com recursos financeiros e humanos.
(Confira o especial sobre os desafios da democracia nas favelas)
Nem Cabral nem Beltrame anunciaram o nome da próxima comunidade a ser ocupada. Segundo o governador, há uma estratégia combinada com o aumento do efetivo da polícia, destinado não apenas às UPPs como às ruas. O secretário calcula que, até 2010, serão formados sete mil PMs: metade ficará no policiamento ostensivo e os demais, nas UPPs.
- Todos os PMs recém-formados farão estágio em UPPs. O tempo de formação, sem incluir a seleção, é de seis meses. Os candidatos passam por uma análise rigorosa, inclusive para saber se têm antecedentes criminais. Só agora temos um planejamento de ingresso de policiais até 2016, já visando à Copa do Mundo - diz Beltrame, acrescentando que as quatro UPPs estão em observação e que a da Cidade de Deus, onde há resistência dos bandidos, é considerada um laboratório, pois mostra como a ocupação poderá ser feita em favelas com esse perfil de criminalidade.
"A solução para o combate à criminalidade são as UPPs"
O cálculo do custo de levar as UPPs a todas as favelas do Rio, feito pelo GLOBO a partir de dados fornecidos pela Secretaria de Segurança, encerrou no domingo a série "Democracia nas favelas". Na opinião do secretário nacional de Segurança, Ricardo Balestreri, o valor é baixo comparado aos benefícios:
- O estado perdeu a conta das vidas que não se devolvem mais, das empresas que deixaram o Rio, do exército de seguranças para manter condomínios. Tudo isso por conta da violência. Pela primeira vez na vida, estou otimista com relação ao projeto de segurança pública. A solução para o combate à criminalidade são as UPPs.
Entidades comunitárias também veem com bons olhos as UPPs. Para o presidente da Federação de Associações de Favelas do Estado do Rio (Faferj), Rossino Castro Diniz, se realmente a iniciativa significar o controle dos territórios pelo estado, os custos não são caros:
- Se o estado tiver o domínio das áreas, o montante não é alto. Mas temos um receio: o de que as UPPs se transformem em milícias. As comunidades não aguentam mais viver entre o tráfico e a milícia. O estado tem de fazer com que direitos e deveres sejam cumpridos.
Coordenador do Viva Comunidade, do movimento Viva Rio, Tião Santos concorda com Rossino quanto aos custos:
- A pacificação das comunidades não tem preço. A maior parte retorna com investimentos, naturalmente.
O presidente da OAB/RJ, Wadih Damous, vai além:
- Um investimento, seja de R$ 340 milhões ou de R$ 1 bilhão, deve ser feito se o objetivo for levar cidadania à população carente.
Já o presidente da Associação de Oficiais da PM, coronel Dilson Ferreira de Anaíde, acha prudente observar as UPPs antes de expandir o programa:
- Há resultados iniciais positivos na Santa Marta. Mas é preciso esperar um pouco. Se for caso, fazem-se ajustes.
O sociólogo Michel Misse também acha que é cedo para avaliar o sucesso das UPPs:
- As favelas há anos tinham os destacamentos de polícia ostensiva. Depois de um tempo, a maior parte ficou ilhada ou foi cooptada pelo tráfico. Agora, os DPOs foram extintos. A ideia das UPPs é interessante, mas precisamos de tempo para acompanhar a nova relação entre policiais e as comunidades.
O deputado Marcelo Freixo (PSOL), que presidiu a CPI das Milícias na Alerj, apoia o programa, mas faz ressalvas:
- São necessários também investimento em saúde e educação. As comunidades não precisam só de polícia. Elas têm de ser ouvidas.
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