quinta-feira, 3 de setembro de 2009
O que explica a violência recente nas favelas de São Paulo?
Em nove meses, foram nove manifestações violentas em favelas de São Paulo. A polícia vê ligação entre protestos
Em nove meses, nove manifestações violentas aconteceram em favelas de São Paulo. Em todos os casos, carros e ônibus foram incendiados. Ruas e avenidas ficaram interditadas. A polícia vê ligação entre estes protestos.
Ao mesmo tempo, a atuação da própria polícia é questionada. O guarda municipal acusado de atirar na menina que morreu em Heliópolis, na segunda-feira, já tinha sido expulso da Polícia Militar por indisciplina.
Ele foi expulso porque quando estava de serviço levou uma mulher para o quartel da PM e fez sexo com ela. Um caso de indisciplina grave. Mas, para a Guarda Civil de São Caetano isso impedia a contratação.
Ontem, Ana Cristina foi enterrada em meio a pedidos de justiça. A população da maior cidade do país se pergunta: por que as manifestações estão ficando tão violentas?
Favela de Paraisópolis, fevereiro de 2009, favela no Jaçanã, 26 de agosto deste ano e favela de Heliópolis, a maior de São Paulo, segunda e terça-feira desta semana: separadas por alguns quilômetros de distância, as três áreas viveram momentos de conflito.
Atos de vandalismo seguidos pela repressão policial transformaram as favelas em campos de batalha. De um lado, manifestantes atirando pedras, incendiando carros e ônibus. Do outro, a Polícia Militar utilizando balas de borracha e bombas de efeito moral.
Além dos atos de vandalismo, as áreas têm em comum as ações que deram origem aos protestos. Na semana passada, no Jaçanã, foi a morte de um rapaz que, segundo a polícia, resistiu à abordagem e atirou contra os policiais, o que provocou a fúria dos manifestantes.
Em Heliópolis, foi a morte de uma estudante, durante uma perseguição da Guarda Civil de São Caetano do Sul a ladrões de carros.
Ontem, durante o enterro de Ana Cristina de Macedo, família e amigos estavam revoltados. “Não acredito que não vou mais encontrar com ela”, diz, um rapaz, chorando.
O acusado de atirar é o guarda municipal de São Caetano do Sul Edson Damião Estevam, que já tinha sido expulso da Polícia Militar há mais de dez anos por indisciplina.
“Isso não impede de prestar outros concursos para ingressar no serviço público, porque ele não tem uma condenação criminal. Ele tem meramente uma punição disciplinar”, afirma o secretário de Segurança Pública de São Caetano do Sul Moacyr Rodrigues.
Foram dois dias de protesto. O mais violento foi convocado por bilhetes que prometiam até uma cesta básica a quem participasse.
“Estão sendo feitas investigações para verificar a origem desse papel”, garante o capitão da PM Mauricio Araújo.
Para alguns especialistas, o modelo de atuação de guardas civis e policiais militares em áreas ocupadas irregularmente deve ser revisto. Segundo eles, essa mudança terá que ser iniciada pela base, nos cursos de formação.
“Temos que pensar no treinamento do policial. Eles têm que definir quando e como as polícias vão usar o nível máximo de força que é a arma de fogo, que é dar o tiro”, aponta a socióloga da USP Cristina Neme.
“Acho que um caminho fundamental é: quando há um caso de violência policial é prestar contas à comunidade, apurar, avaliar se faltou, houve ou não abuso policial. Se tiver havido, explicar e apresentar isso à comunidade. Se não tiver havido, explicar para a comunidade que às vezes a polícia precisa responder de forma mais violenta porque também está sob risco”, opina a coordenadora de gestão de segurança do Instituto Sou da Paz Carolina Ricardo.
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