sábado, 14 de novembro de 2009

Tumulto na Uniban



Em palestra na Uniban, Suplicy compara caso Geisy a uso de sunga no Senado

Senador chegou a ser investigado por quebra de decoro.
Já aluna foi hostilizada na faculdade do ABC após usar roupa curta.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) deu uma palestra na noite desta sexta-feira (13) na Uniban, em São Bernardo do Campo, no ABC, para um auditório lotado. Até alunos em pé assistiram à aula. A faculdade, palco da polêmica envolvendo a aluna Geisy Arruda, de 20 anos, e seu minivestido rosa, decidiu promover uma série de palestras sobre cidadania. O político fez a primeira delas.
Ele arrancou risadas da platéia ao comparar o episódio de humilhação sofrida pela estudante a um recente envolvendo ele próprio, quando topou vestir uma sunga vermelha a pedido de um programa humorístico da TV no Senado. “Às vezes, todos nós podemos nos exceder. Somos seres humanos. Quem não faz bobagem? Eu mesmo as cometo", disse, sem fazer menção direta a quem de fato errou no caso da universidade.

No episódio da sunga, ele chegou a ser investigado por quebra de decoro, mas o caso foi arquivado. Isso porque no dia 15 de outubro ele desfilou com uma sunga vermelha por cima do terno pelo Salão Azul do Congresso.

Críticas à imprensa

Convidada pelo senador, Geisy não foi à Uniban. Ela não volta às aulas desde o dia 22 de outubro, quando foi humilhada publicamente por um grupo de alunos por ter ido à universidade com um vestido curto. Pais, professores e alunos pediram “respeito” e criticaram a postura da imprensa na cobertura do caso, considerada por eles “sensacionalista”.

Ao fim da palestra, que acabou virando um grande debate, o senador tentou por quatro vezes fazer uma espécie de votação, perguntando aos alunos quem queria a volta de Geisy. Foi interrompido por um assessor da Uniban. “Queria saber de vocês se ela poderia vir na segunda-feira. Quem sabe poderíamos dizer: ‘Geisy, gostaríamos de pedir desculpas e dizer que você é bem-vinda?’”, pediu Suplicy, que recebeu um abaixo-assinado pedindo que pais, alunos e professores fossem respeitados.

Antes, alguns estudantes pediram a palavra. Vítor, do 4º ano de psicologia, foi o primeiro deles. Com voz embargada, desabafou: “Nós, alunos, estamos sendo tachados por coisas que não fizemos. Estamos sendo injustiçados por jornais sensacionalistas que não veem o nosso lado." Quando falou sobre a dificuldade de muitos em estudar, trabalhar e se formar, arrancou aplausos de todos e lágrimas de alguns na plateia, inclusive de professores.

O vice-reitor da Uniban, Ellis Brown, limitou-se a dizer: “Estamos na luta por vocês”. A aluna Kate, do 4º ano de logística, disse ser “frustrante ouvir o que está sendo falado por aí” e assumiu parte da culpa pelo caso, em nome de todos. “Eu não participei do episódio da Geisy, mas temos de assumir o que aconteceu. Da mesma forma que ela deve estar revendo o comportamento dela, cada um aqui deveria fazer o mesmo."

Penúltima a falar, a aluna que se identificou como Isabel, do 4º ano de enfermagem, foi ovacionada. Reclamou de os estudantes terem sido chamados de “nazistas” e afirmou que, mesmo homossexual, nunca sofreu retaliações na Uniban. “Minha esposa estuda aqui e nunca fomos hostilizadas porque sempre nos demos o respeito.”

Quando se referiu a Geisy, a quem chamou de “nossa querida amiga”, citou que ela estava “em destaque outra vez (na mídia)”. Mais uma vez, aplausos de parte dos colegas. Depois que todos deixaram o auditório, o vice-reitor disse esperar que, com as palavras do senador e dos alunos, possa ser sentido na Uniban “um clima de reciprocidade”. Em seguida, emendou: “Os alunos estão feridos e as feridas demoram a cicatrizar”.

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