terça-feira, 14 de abril de 2009

Com bebês no colo, presas fogem em SP


Prédio do complexo da Penitenciária Feminina do Butantã, na zona oeste de SP, onde ficam presas mulheres que amamentam

Nove detentas, seis delas com crianças, renderam funcionários, abriram portão e passaram por duas cercas para fugir

Oito fugitivas foram recapturadas pela PM cerca de três horas depois a menos de um quilômetro de penitenciária no Butantã

Com os bebês de até seis meses no colo, um grupo de presas fugiu ontem do complexo da Penitenciária Feminina do Butantã, na zona oeste de SP.
Para deixar o presídio, que só abriga presas no período da amamentação, elas renderam agentes de segurança e funcionários e passaram por dois alambrados de até dois metros de altura. Dois cães de guarda que ficam entre os dois alambrados foram dopados.
A fuga, porém, durou pouco. Cerca de 40 minutos após deixarem o presídio, as cinco funcionárias e agentes que haviam sido rendidas e mantidas presas em uma sala começaram a gritar -chamando a atenção das agentes da cadeia feminina ao lado do presídio. Policiais militares encontraram as fugitivas a menos de um quilômetro do local cerca de três horas depois da fuga.
Das nove fugitivas, seis levavam os filhos no colo. A única que ainda não foi localizada não estava com o bebê -a criança estava fora da unidade, em visita aos avós paternos.
"Quando eu cheguei na penitenciária hoje [ontem] para devolver a criança descobri que ela havia fugido. Foi um choque", disse a avó, que pediu anonimato.
O Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa abriga cerca de 60 presas em um edifício anexo à penitenciária feminina do Butantã. As detentas ficam lá temporariamente, apenas enquanto amamentam. Após seis meses, as crianças são levadas à família ou para alguma instituição.

Fuga
De acordo com a Polícia Civil, a fuga aconteceu por volta das 20h50 do último domingo. As detentas fabricaram facas artesanais, feitas com pedaços de ferro ou madeira de cabos de vassoura, e renderam duas agentes penitenciárias e três auxiliares de enfermagem. As funcionárias foram trancadas em uma das salas da unidade e ameaçadas de morte para ficar em silêncio.
Após dominar as funcionárias, as fugitivas roubaram as chaves do portão e com elas conseguiram chegar ao estacionamento da unidade.
Segundo a polícia, para chegar a um matagal ao lado da rodovia Raposo Tavares, as presas tiveram de passar por dois alambrados -que podem ter sido cortados por elas mesmas ou por alguém do lado de fora. A polícia também não sabe se foram elas que doparam os cães ou se tiveram ajuda de fora.

Investigação
A assessoria de imprensa da Secretaria da Administração Penitenciária afirmou, por meio de uma nota oficial, que "vai apurar em que circunstâncias se deu a fuga".
A secretaria não informou quantos agentes trabalham no local nem qual o crime cometido pelas detentas. Em nota, disse que a unidade possui um corpo de segurança, funcionários administrativos, além de enfermeiro, nutricionista, clínico geral, ginecologista, psicólogos e assistentes sociais. A assessoria também não confirmou informação de alguns funcionários de que já teriam ocorrido outras duas fugas no local nos últimos quatro anos.
Segundo a Polícia Civil, a principal suspeita de ter planejado a fuga é uma detenta de 20 anos. Pelo relato de testemunhas, ela teria incitado as outras presas a tentarem a fuga.
A secretaria não informou onde estavam os filhos das outras duas detentas que tentaram escapar sem os bebês.
Na nota, a SAP disse que a unidade prisional opera com uma população carcerária dentro do limite de sua capacidade.

Para agentes, segurança no local é falha

Agentes penitenciários e policiais ouvidos pela Folha, sob condição de anonimato, afirmaram que o Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa, onde ocorreu a fuga, não possui as condições de segurança necessárias para abrigar detentas mais perigosas.
O edifício fica em frente à penitenciária feminina de regime semiaberto do Butantã -na qual as detentas podem sair para trabalhar durante o dia.
Não há muralhas ou torres de vigilância no Cahmp, embora a unidade receba detentas que cumprem pena em regime fechado -onde esse tipo de recurso de segurança é necessário. Apenas dois alambrados com cerca de dois metros de altura, e que estão deteriorados em alguns pontos, segundo agentes, separam a unidade de um matagal.
No local, apenas uma ou duas detentas, por exemplo, dividem a mesma cela. Também não há grades nas portas das celas e os banhos de sol não podem ser suspensos, mesmo se as presas cometerem alguma irregularidade.

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