quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Extinto, o guarda de trânsito escreve ao cronista

Senhor Jornalista,


“Cadê o Guarda de Trânsito?” Aonde ele foi parar? Sumiu com o advento da lei que transferiu o DF do Rio para Brasília. Ele era integrante do antigo DFSP (Departamento Federal de Segurança Pública), hoje DPF. O Guarda de Trânsito foi transformado em Agente de Polícia Federal com o propósito de implementar em todo território nacional a atuação da Polícia Federal, conforme previsão ínsita na Constituição de 1946.

Só que os Governadores dos Estados, sob o pálio da autonomia, impediram tal iniciativa. Na verdade, não queriam eles perder o privilégio de ter uma Polícia própria, a Civil e PM Estaduais, de sorte a poder mandar soltar ou prender qualquer cidadão com um simples telefonema. Assim, seu filho, sobrinho ou marido de sua empregada estariam protegidos de eventual encarceramento, mesmo se encontrados em flagrante delito.

Só após o Golpe Militar de 64 foi que a milicada enfiou goela abaixo dos Governadores a presença da Polícia Federal nos Estados. De início via interventores.

Eis aí, portanto, aonde foi parar o Guarda de Trânsito, malabarista, comandante absoluto e atento ao trânsito.

Ele ajudou na implantação da atual Polícia Federal em todo território nacional, sendo assim, o embrião do que é hoje, o DPF, capaz de pedir a prisão de um Daniel Dantas, antes inimaginável, apesar dos Gilmares.

Sua crônica publicada no Segundo Caderno sobre o GT, encheu-me de orgulho, pois fui um deles.

Substituíram-nos “homens com bloquinhos e canetas” pelos Guardas Municipais da Prefeitura, na época preparados para a vigilância das praças e jardins públicos municipais.

Além desses somaram-se os PMs, também preparados para atividades diversas como policiamento ostensivo e segurança dos prédios públicos federais.

Hoje, com 78 anos de idade, vejo decepcionado a atuação dos controladores do nosso trânsito, se é que controlam, de fato, alguma coisa, senão de costas para o fluxo de veículos, a conversar, distraídos com outras pessoas nas calçadas e, vez por outra, soltam um silvo breve e volta à posição de indiferença.

Sou leitor assíduo do Segundo Caderno de O Globo, do qual sou assinante há anos, porém a sua crônica do dia 05/09 do corrente, tocou-me em cheio, pelo meu passado de Guarda de Trânsito. Éramos preparados não para multar, arrecadar, e sim para orientar os motoristas e pedestres em geral.

De resto, vale, também relembrar, a figura visionária ocorrida ao seu regresso de um show de bulldog no Rio Rock & Blues, próximo à Sala Cecília Meireles, na Lapa, só para recordar o perfil do Guarda de Trânsito de uniforme impecável, quepe branco, camisa bege de mangas longas, sapatos e meias pretos e gravata da mesma cor. Aí está reproduzida a imagem dos Guardas de Trânsito que “desapareceram. Não sei precisar que maldito dia foi esse”.

Realmente maldito, por não ter as autoridades o cuidado de substituí-los por outros com o mesmo preparo.

O Guarda de Trânsito inspirava confiança, respeito e admiração, agora não só ele, mas, com raras exceções, todo policial fundiu-se aos fora da lei e ao invés de respeito causa medo.

Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2009



DJALMA POMPEU FILHO

GC. POMPEU

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