ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
As análises do setor de inteligência do CGPRE (Coordenação Geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes), da Polícia Federal, apontam que a principal diferença no tráfico de drogas entre o Rio de Janeiro e São Paulo está no número de facções criminosas que atuam em cada Estado.
Enquanto o Rio convive há anos com as disputas entre CV (Comando Vermelho), ADA (Amigos dos Amigos) e TC (Terceiro Comando), em São Paulo existe o domínio dos traficantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Além disso, poucas regiões de São Paulo, como Santos, no litoral, têm os morros que caracterizam o Rio.
A PF sabe que, em comum, Rio e São Paulo têm apenas a origem da droga vendida em seus territórios. A maconha vem do Paraguai e 90% da cocaína tem origem na Bolívia.
Hoje, mesmo os poucos traficantes varejistas que não são "batizados" (ligados diretamente) no PCC têm de pagar uma espécie de imposto para ter autorização dessa facção para traficar em São Paulo. Caso o "bicho papão" não seja pago, o PCC toma com violência o ponto de tráfico -ao contrário do que ocorre no Rio, essa invasão não possibilita resistência.
"O aumento do número de facções criminosas já representa o aumento de violência e, considerando que essas facções são rivais e disputam o mesmo mercado, a conclusão é que a onda de violência crescente no Rio decorre, muitas vezes, de uma busca por mercado. São várias facções disputando o poder e espaço no tráfico de drogas", diz o delegado Umberto Ramos Rodrigues, do CGPRE.
Outra diferença entre o tráfico no Rio e em São Paulo, ainda segundo a PF, está na quantidade de crack comercializada. Em São Paulo, o PCC oferta ao mercado muito mais essa droga do que as facções cariocas.
No Rio, apesar da chegada do crack às bocas de fumo nos últimos três anos, as facções criminosas CV, ADA e TC ainda têm preocupação com o tempo em que terão o viciado como cliente -essa droga é muito mais devastadora do que a versão menos suja da cocaína.
De abril deste ano, quando o delegado Eduardo Hallage foi nomeado pela gestão de José Serra (PSDB) para chefiar o Denarc (departamento de narcóticos) com a missão principal de acabar com a corrupção nesse setor da polícia paulista, até setembro, foram apreendidos 434 quilos de cocaína, 1.263 quilos de maconha e 36.634 quilos de crack no Estado.
Aluguel de armas
No ano passado, a Polícia Civil de SP fez operações em Sorocaba (100 km de SP) e cidades vizinhas para combater uma disputa -na qual houve assassinatos- por pontos de venda de droga entre o PCC e o CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade), quadrilha que tenta fazer frente ao domínio dos rivais.
Ao longo de 2008, segundo policiais de Sorocaba, ao menos 20 pessoas foram mortas, todas elas em ações distintas e nunca em confrontos como os ocorridos semana passada no Rio.
Enquanto as três principais facções criminosas do Rio também disputam poderio bélico, em São Paulo a hegemonia do PCC dispensa o emprego bélico e abre espaço para que os membros da facção direcionem suas armas a outros crimes.
Muitas vezes, para não ficarem paradas, as armas do PCC são alugadas para ladrões de banco e de carga. Podem render até 15% do roubo aos donos das armas. Ainda, em São Paulo não se veem traficantes ostentando armas de alto poder destrutivo, como fuzis e granadas.
comentario do BLOG APGSP
Muito me espanta é o fato de a Folha de S. Paulo (veja reportagem acima),publicar uma coisa como esta, visto que é obvio que há diferença no tráfico de drogas entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Não é segredo pra ninguém que o PCC detém e controla grande parte do monopólio dos pontos de droga em SP. A socióloga, doutoranda pela USP Camila Nunes Dias já havia constatado que o ‘Partido’ se encontra hoje estruturado de maneira empresarial e com domínio completo sobre os presídios paulistas. Cada um deles é gerenciado pelo ‘piloto’, que se reporta à cúpula de 18 líderes. Fora das prisões, seus representantes são os ‘torres’, com jurisdição sobre cada área de código DDD do Estado de São Paulo.
Não foi só o número de homicídios que recuou, mas também o de rebeliões e assassinatos dentro das penitenciárias.
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