da BBC Brasil
Um artigo publicado na edição que circula nesta terça-feira do jornal francês "Le Monde" afirma que a morte do coordenador do AfroReggae, Evandro João da Silva, expõe uma "gangrena" na Polícia Militar do Rio. A reportagem, intitulada "No Rio de Janeiro, uma polícia com comportamento criminoso", afirma que a corporação é "frequentemente corrompida e brutal" e "goza de má reputação".
O texto relembra o assassinato de Evandro e a atuação dos policiais enquanto o coordenador da ONG ainda agonizava após ser atingido por um assaltante.
O caso provocou indignação depois que câmeras de circuito interno mostraram um cabo e um capitão da PM do Rio liberando os agressores, sem prestar socorro à vítima. Ambos negam omissão de socorro e alegam que não perceberam Evandro sangrando no chão da agência bancária onde o crime ocorreu.
"O caso é ainda mais comovente porque a vítima, nascida em um favela do norte do Rio e respeitada por sua coragem e obstinação, havia se tornado um 'mediador de conflitos', principalmente entre as gangues de narcotraficantes", escreve o "Le Monde".
O jornal lembra que o trabalho de Evandro consistia em "tentar converter os mais jovens a uma cultura de paz".
"O caso chama atenção pela gangrena que ronda a instituição (da PM): nos últimos dois anos, mais de 1,7 mil policiais foram excluídos da corporação", diz o texto, lembrando que os dois envolvidos no episódio "continuam livres".
Primeiro mundo "versus" terceiro
A atuação da polícia na morte do coordenador do AfroReggae também foi destaque no jornal britânico "The Guardian". Um artigo assinado pelo comentarista Conor Foley sustenta que "a sede dos Jogos Olímpicos de 2016 precisa enfrentar uma política de justiça criminal que fracassou em conter as execuções sumárias e a corrupção policial".
Foley afirma que "a banalidade cotidiana do incidente relembrou como a polícia da cidade se tornou fora de controle".
O caso ocorre no momento em que o Brasil se vangloria de ter contornado a crise econômica mundial de maior proporção, e no momento em que a eleição como sede olímpica de 2016 fazia com que os brasileiros "se permitissem uma onda de otimismo".
"Após anos de negligência e violência urbana, parecia que o Rio estava novamente em alta", escreve o comentarista.
Para Conor, o caso envolvendo a polícia do Rio lembra como não apenas as forças de segurança, mas todo o sistema judicial precisam de "uma reforma completa".
O autor do artigo lembra o comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a escolha do Rio como sede olímpica. "Deixamos de ser um país de segunda classe para se tornar um de primeira classe", disse Lula. "Respeito é bom e a gente gosta", relembrou.
"Mas respeito tem de ser conquistado também"; diz Conor, "e não tem sentido ter uma sociedade e uma economia de primeiro mundo enquanto o resto do Estado brasileiro permanece profundamente enraizado no terceiro".
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