segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Agência americana descentralizará sistema de vigilância que analisa grande parte das telecomunicações mundiais

RIO - A agência nacional de segurança dos EUA, vulgo NSA (National Security Agency), construirá um data center de 93 mil metros quadrados em Camp Williams, no estado americano de Utah. Será o terceiro centro de dados da agência, sendo que o segundo já se encontra em construção no estado do Texas, onde antes funcionava uma fábrica de microchips da Sony. O data center de Utah custará US$ 1,93 bilhão e engolirá 65 megawatts de energia elétrica, quase o mesmo utilizado por todas as residências em Salt Lake City.

A NSA é o templo americano da criptologia, uma instituição mundialmente conhecida por seu programa de inteligência de sinais - processo de coleta e análise de várias formas de comunicação, incluindo trilhões de chamadas telefônicas, mensagens de email e rastros de dados, tais como buscas na web, recibos de estacionamento, visitas a bibliotecas e outros tipos de "lixo de bolso" digital. Ou seja, supostamente a agência seria capaz de interceptar e analisar boa parte de todas as comunicações eletrônicas do mundo inteiro. Todo esse poder tem sido criticado por ativistas que acusam a NSA de monitorar sem mandado judicial as comunicações dos cidadãos americanos e de boa parte do mundo.

Uma pista de quanta informação será armazenada nesses cibertemplos sem janelas vem de um relatório recente preparado pela MITRE Corporation ( www.mitre.org), o departamento dos crânios do Pentágono. Segundo o relatório, quanto mais sofisticados ficam os sensores de vigilância, mais aumenta o volume de dados, que pode exceder o nível dos Yottabytes (Yotta = 10 elevado à 24 potência - http://hkcvs.tk ) por volta de 2015. Essa quantidade de informação equivale a cerca de um setilhão (1.000.000.000.000.000.000.000.000) de páginas de texto.

Depois de gravados nessas bibliotecas, os dados são analisados por supercomputadores rodando complexos algoritmos para determinar quais pessoas poderão ser, ou talvez um dia se tornar, um terrorista. No mundo de vigilância automatizada da NSA, cada bit tem uma história e cada tecla pressionada tem um enredo.

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o governo americano percebeu o alto de risco de centralizar os dados da NSA em um único local, o data center original da agência, no estado de Maryland, bem perto de Washington D.C. Além dessa questão estratégica, há também a energética. Já em 2006, o dispêndio de energia dos supercomputadores da agência começaram a exceder a capacidade da concessionária local, a Baltimore Gas & Electric.

Além disso, desde os atentados, a comunidade americana de inteligência sofreu uma série de alterações, retirando o diretor da CIA do topo do esquema organizacional, substituindo-o por um novo diretor nacional de inteligência, um tecnocrata de escritório com uma grande equipe.

Sobrevivendo a estas mudanças e emergindo como o mais poderoso chefe de espionagem no mundo apareceu o diretor da NSA. Ele está à frente de uma organização três vezes maior que a CIA, tendo recebido do congresso americano em 2008 a missão de espionar os cidadãos americanos em um nível nunca antes visto, a despeito da crítica pública feita contra o uso da agência durante a administração Bush, que conduziu vigilância doméstica como parte da chamada Guerra ao Terror. A legislação de exceção também liberou esse diretor de uma série de restrições legais, colocando-o também à frente da crescente força americana de ciberguerreiros.

Rapidamente a NSA dobrou o tamanho de seu quartel-general, expandido os postos de escuta e construindo imensos repositório de dados. Uma pista do possível propósito desses grandes centros altamente secretos vem do parceiro britânico da agência, o "Government Communications Headquarters".

Em 2008, o governo britânico propôs a criação de um banco de dados central gerenciado pelo governo para armazenar detalhes de cada chamada telefônica, email e busca na web feita no Reino Unido, um vasto material que depois seria selecionado e analisado.

Mas quando esse plano foi divulgado pelo governo, a imprensa e o público gritaram alto, fazendo com que o governo aparentemente abandonasse o projeto. O governo então propôs que, em vez de manter um vasto e centralizado banco de dados, as empresas de telecomunicação e os provedores de serviço internet teriam que manter registros de todos detalhes sobre os hábitos de telefonemas, emails e navegação na web de todos os usuários durante um ano, além de permitir ao governo acesso a esses dados quando solicitado. Novos protestos sobrevieram e e o segundo plano foi engavetado.

Diferentemente do governo britânico, que permitiu o debate público em torno da questão de um banco de dados central, a National Security Agency obteve a completa cooperação de grande parte da indústria de telecomunicações americana, tudo isso sob o maior segredo, desde 11 de setembro. E deu a maior encrenca.

O escândalo se deu quando a agência construiu alas secretas nas maiores salas de comutação de tráfego da empresa AT&T, onde cada item de informação era duplicado e dirigido para um processamento em paralelo para filtragem de palavras chaves, com os resultados sendo transmitidos para a agência para posterior análise. Assim, nesses novos centros de dados, em Utah, no Texas e possivelmente em outros locais, provavelmente se guardarão os dados interceptados pela nova leva de aspiradores de dados da NSA nos EUA - a versão americana do conceito banco de dados do "Grande Irmão" rejeitada pelos britânicos.

Outro fator importante para a escolha de Utah como local do terceiro centro de dados da NSA é que ali se situa o centro de treinamento de uma unidade militar única no mundo, um centro linguístico com 1.200 funcionários, dos quais cerca de 600 são de Utah, muitos deles ex-missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (também conhecida como Igreja Mórmon) que falam outros idiomas.

Em 2000, o FBI lançou um projeto quase onipresente de escuta eletrônica de telecomunicações chamado Carnivore (carnívoro), que causou grande celeuma e foi rebatizado em 2001 como DCS1000. Além deste projeto, outro chamado "Magic Lantern" (lanterna mágica) também envolvia operações similares.

Uma análise mais aprofundada sobre a história da atuação da NSA, com suas muitas pisadas na bola, pode ser lida em uma resenha escrita por James Bamford para o site "NyBooks", cuja tradução livre para o português pode ser lida no endereço http://hg2qk.tk .

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