segunda-feira, 8 de março de 2010

Prédio troca porteiro "amigo" por segurança



Em São Paulo, edifícios terceirizam portarias e adotam métodos de segurança que alteram completamente a rotina de moradores

Porteiros são proibidos de sair de guarita para ajudar morador; condôminos aceitam até ter o carro revistado para evitar assaltos

JAMES CIMINO
MARCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dentro de uma guarita blindada e com vidros fumê, seguranças treinados, vigiados por câmeras ligadas a uma central de monitoramento, estão gradativamente substituindo os porteiros. A figura a quem se recorria para o pedido de pequenas tarefas, como consertar um chuveiro, ou com quem o morador conversava horas sobre futebol, está desaparecendo.
Segundo José Roberto Graiche Jr., diretor jurídico da AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios), cerca de 40% dos condomínios da cidade de São Paulo terceirizaram suas portarias e se utilizam de métodos de segurança que alteraram completamente a rotina de seus moradores. Entre os novos empreendimentos imobiliários, o índice chega a 70%.
Mesmo no caso de edifícios que mantiveram a figura do porteiro, muitos passaram por treinamento que visa a segurança e agora são proibidos de sair da guarita e de, por exemplo, ajudar um morador a levar compras ao elevador.
De acordo com Graiche, que também administra diversos condomínios na cidade, a contratação de uma empresa de segurança aumenta em 22% o custo da folha de pagamento para o condomínio. Se for um vigilante com curso especializado reconhecido pela Polícia Federal, o custo sobe até 45%.
Fora o alto preço do serviço especializado, os próprios condôminos optaram por abrir mão da privacidade.
Chegar em casa deixou de ser tarefa simples. Há casos em que o porta-malas e o banco traseiro dos veículos dos moradores e de visitantes são vistoriados antes de entrar na garagem. Se for a pé, o morador corre o risco de ter de se identificar todas as vezes que for à padaria, por exemplo. Isso significa mostrar carteira de identidade, informar uma senha de acesso, decorar o código de acionamento do elevador, sem falar nas diversas câmeras instaladas nos corredores e áreas comuns.
Hubert Gebara, vice-presidente do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de SP) conta que, em um dos 400 condomínios que administra, abrir o porta-malas do carro virou rotina. Assustados com o caso de um prédio vizinho, em que o assaltante se escondeu no veículo de um morador para ter acesso ao edifício, decidiram em assembleia que esse inconveniente seria melhor que correr o risco de pôr todos os moradores em perigo. Gebara, no entanto, não identifica o condomínio. "Eles não me autorizam dar informações para que os bandidos não saibam que estão prevenidos e desenvolvam outras técnicas."
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Polícia registra 14 arrastões só neste ano

DA REDAÇÃO

Desde o início do ano, ao menos 14 roubos a condomínios -os chamados "arrastões"- foram registrados pela Polícia Civil no Estado de São Paulo.
A cada assalto, os criminosos usam táticas diferentes: render um morador fora do prédio e entrar com ele escondido no carro; fingir ser alguém interessado em comprar ou alugar um apartamento ou até mesmo se apresentar como repórter, caso do assalto realizado em fevereiro, na região do Morumbi (zona oeste de SP).
Na ocasião, um homem vestido de terno e gravata disse que iria entrevistar um morador e, com a ajuda de criminosos, realizaram um arrastão em condomínio de casas que é protegido por câmeras, muro alto e duas cancelas em sua rua de acesso.
No ano passado, foram registrados 51 roubos a condomínios, dos quais 36 ocorreram na capital.

Porteiros fazem curso com militar da reserva

Objetivo é passar conhecimentos de segurança e melhorar a disciplina

Uso de rádios, controle de acesso a veículos e até mesmo noções básicas dos códigos Penal e Civil são abordados nas aulas


DA REPORTAGEM LOCAL

Os prédios ou mesmo as empresas de segurança que resolveram manter os porteiros no comando da guarita dos condomínios exigem que os funcionários passem por cursos de formação -a maioria coordenados por militares da reserva.
De quatro centros em São Paulo procurados pela Folha, três têm ex-membros das Forças Armadas como professores.
"Não há mais espaço para aquele senhorzinho de idade que fica atrás do balcão lendo jornal. O mercado exige uma pessoa mais profissional", diz Ronie Emerson Ferrareto da Costa, diretor comercial da Recap, que oferece cursos.
As aulas para os porteiros são ministradas, geralmente, em um só dia. O custo vai de R$ 30 a R$ 90. Ao final, o aluno tem o seu nome indicado para atuar em empresas que prestam serviços para condomínios.
Uso de rádios comunicadores, maneiras de abordar os moradores e visitantes, controle de acesso a veículos, acompanhamento das câmeras de vigilância e até mesmo noções básicas dos códigos Penal e Civil são algumas das disciplinas.
"Fiz o curso achando que me ensinariam a recepcionar as pessoas. Aprendi que a recepção é importante, mas parece que a segurança do prédio e dos moradores é mais ainda", diz Antônio Brandão, 38, que há dois anos trabalha em um prédio de Higienópolis (centro).
Os moradores acabam se acostumando a esse novo perfil. "Eu sempre brincava com o porteiro sobre o resultado do futebol em outros prédios onde morei, mas hoje sei que isso não dá mais se queremos ter segurança", diz o administrador José Carvalho, 49.

Antecedentes
Em alguns prédios, os moradores são informados de que os funcionários contratados não têm antecedentes criminais. É o caso de um edifício na esquina das alamedas Jaú e Pamplona (Jardins), onde fichas com os dados dos novos funcionários são colocadas debaixo das portas. (AFONSO BENITES, MP e JC)

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