segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Condenado por assassinato de Tim Lopes vende drogas em favela do Rio


Zeu cumpriu 5 anos da pena, antes de fugir ao conseguir regime semiaberto.

Vídeos mostram ação de traficante que é procurado pela polícia há três anos.

Condenado a 23 anos e seis meses de prisão por participação no assassinato do jornalista Tim Lopes em 2002, Elizeu Felício de Souza, o Zeu, cumpriu apenas cinco anos e 25 dias, e é considerado foragido da Justiça. Ele conseguiu o direito ao regime semiaberto, e no primeiro dia que saiu, não voltou mais. A polícia procura o bandido há três anos e não encontra. Mas o criminoso foi localizado vendendo drogas em uma favela do Rio de Janeiro.

Vídeos obtidos pelo “Fantástico” mostram traficantes armados vendendo cocaína, maconha e crack ao lado de um canteiro de obras da Prefeitura do Rio. O tráfico é feito abertamente, como se os bandidos fossem camelôs.

Em outro ponto da mesma favela, mais traficantes aterrorizam os moradores à luz do dia – é o chamado “bonde”, uma caravana do terror. São 34 marginais e pelo menos 12 fuzis – um deles com mira telescópica.

O desafio às leis é permanente. Os bandidos chegaram ao cúmulo de instalar vigas de ferro no asfalto para impedir o acesso de carros da polícia. Ao lado do canteiro de obras, muitos sacos de drogas cobrem a mesa e os fuzis estão por toda a parte.

Feirão das drogas
Um dos chefes desses traficantes é Zeu, que aparece nas imagens em pontos de vendas de drogas repletos de máquinas caça-níqueis, que são proibidas em todo o Brasil. Em outro vídeo que mostra o comércio de drogas, Zeu chega de moto a outro ponto de venda, carregando um fuzil e com uma pistola na cintura.

As vendas de drogas, com preço mínimo de R$ 2, avançam pela noite e o mercado rende muito dinheiro – que é dividido em sacos distintos para cada tipo de droga comercializada.

Zeu foi um dos condenados pela morte do jornalista da TV Globo Tim Lopes. Em 2002, Tim fazia uma reportagem sobre a exploração sexual de menores em bailes de traficantes, quando foi sequestrado, torturado e assassinado no chamado Complexo do Alemão.

Criminoso saiu para 'visitar a família'
As investigações mostraram que foi Zeu quem comprou a gasolina usada para queimar o corpo de Tim. Ele pegou 23 anos e seis meses de cadeia. Depois de conseguir o direito ao regime semiaberto – ao completar cinco anos e 25 dias na cadeia, ele foi transferido para um presídio em Niterói. E logo no primeiro dia que saiu para visitar a família em casa, Zeu não voltou mais. “Cabe à Justiça e quem faz as leis perceberem que isso precisa haver uma reforma. Não pode ser assim. A gente já sabe que não tem resultado. Então por que se beneficiar desse direito se ele não tem recuperação?”, desabafa Miro Lopes, irmão de Tim

“Esses casos extremamente diferenciados deveriam ter um tratamento mais duro da lei e também um acompanhamento mais rígido tanto na hora da concessão do benefício, como mesmo que o benefício seja concedido, após essa concessão”, defendeu Paulo Wunder, coordenador de Segurança e Inteligência do Ministério Público do Rio.

Tornozeleira eletrônica
Para monitorar condenados que cumprem pena em regime semiaberto, alguns estados brasileiros já usam a tornozeleira eletrônica. O sistema envia sinais a uma central de dados que localiza o portador do aparelho. Se ele arrancar a tornozeleira, um alarme é disparado na central.

“Facilitaria muito a recaptura desses criminosos. Facilitaria inclusive identificar que esse sujeito está de novo diretamente envolvido com a criminalidade”, disse Wunder.

O Complexo do Alemão reúne 13 favelas, e uma delas é o Morro do Alemão, onde foram gravados os vídeos da reportagem do Fantástico.

Dois traficantes comandam a venda de drogas em todo o complexo. Um é o traficante Fabiano Atanázio, conhecido como FB. O outro é Luciano da Silva, o Pezão.

Depois que fugiu, Zeu ganhou de Pezão dois dos pontos de venda de drogas que aparecem nos vídeos.

Disque Denúncia oferece R$ 10 mil
E o Disque Denúncia oferece uma recompensa de R$ 10 mil por informações que levem à prisão do bandido. De 2007, quando Zeu fugiu, até hoje, o Disque Denúncia recebeu 1,5 mil ligações de moradores do Complexo do Alemão – 109 delas sobre o traficante que continua solto.

“Isso nos deixa extremamente incomodado com essa questão, com essa situação de impunidade. É um acinte para nós, a população que acreditou em nós, nos nossos apelos, trouxe informações valiosas para polícia, que fez bem o seu trabalho. Como é que fica?”, declarou Zeca Borges, do Disque Denúncia.

“Você sente uma punhalada pelas costas. Parece que está matando novamente a vítima”, desabafou Miro Lopes.

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