Antonio Ferreira Pinto, da Segurança Pública, disse que iniciou reestruturação para tirar corporação desse estágio
Ele afirmou querer resgatar o caráter investigativo da Polícia Civil e elogiou a PM; investigadores concordam, e delegados veem exagero
A Polícia Civil de São Paulo encontra-se em situação de "absoluta inépcia e letargia". Esses foram os termos usados ontem pelo secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, para definir a situação desde que assumiu o cargo na gestão José Serra (PSDB).
Durante um debate sobre segurança pública promovido pela Fecomercio (Federação de Comércio), Ferreira Pinto fez um balanço de sua gestão, iniciada há cinco meses.
A uma plateia formada na maioria por PMs e cadetes, o secretário disse que, para tirar a Polícia Civil desse estágio, iniciou-se uma reestruturação. Ele não fez menção a nenhum de seus antecessores.
Depois de elogiar o trabalho da PM, onde trabalhou 16 anos e saiu como capitão, o secretário afirmou que pode dedicar seu tempo para "resolver os problemas cruciais" da Polícia Civil. "Resolver todos [os problemas] seria muita pretensão, mas não posso comodamente ficar no meu gabinete tendo ciência de todos esses fatos, uma situação de absoluta inépcia e letargia da Polícia Civil."
As mudanças na estrutura da polícia paulista passam por diversos pontos, como a troca de diretores e o acúmulo de funções por delegados. Ferreira Pinto substituiu diversos comandos, como o do Deic (que investiga o crime organizado), o do DHPP (homicídios) e o da corregedoria. Esta, desde ontem, passou a ser subordinada diretamente ao seu gabinete.
O secretário disse pretender resgatar o caráter investigativo da Polícia Civil. Para isso, fará mais duas mudanças: somente a PM fará escoltas de presos, e todos os termos circunstanciados de ocorrência (que substituem o boletim de ocorrência em casos menos graves) terão de ser feitos por policiais civis.
A Folha apurou que as mudanças feitas pelo secretário têm como objetivo trazer à Polícia Civil uma nova identidade, mais parecida com a da Polícia Federal. Por exemplo, em vez de dizer que o Deic fez uma operação para prender criminosos, a ação passará a ser caracterizada como da Civil.
Sobre a PM, Ferreira Pinto disse que a Rota (Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar), apontada nos anos 90 como uma unidade composta por policiais violentos, deverá reforçar o policiamento na Grande SP. "Não significa nenhuma apologia ao arbítrio, ao desmando, à execução sumária, que, tristemente, nos lembramos 15 anos atrás. Mas não podemos ter timidez em valorizar a Rota", disse.
Policiais divididos
Sindicatos de policiais civis se dividiram sobre as declarações. Investigadores concordam com o secretário; já delegados acham que ele exagerou.
"Realmente a Polícia Civil, no governo José Serra, está desaparelhada e desestimulada", disse o presidente do sindicato dos investigadores, João Batista Rebouças. Para ele, não é só a questão salarial, mas também a falta de estrutura que interfere no serviço dos 35 mil policiais.
"Hoje o policial faz tudo, menos investigar. Se ele não for valorizado, começa a trabalhar em outra função e a usar a polícia como bico", disse Rebouças.
Para o presidente do sindicato dos delegados, José Martins Leal, as palavras do secretário são "fortes". "Precisamos de uma injeção de ânimo, mas não se faz isso com essas palavras."
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