terça-feira, 31 de maio de 2011
Folha.com - Cotidiano - PM chefiava assaltos a caixas eletrônicos, diz Deic - 31/05/2011
Folha.com - Cotidiano - PM chefiava assaltos a caixas eletrônicos, diz Deic - 31/05/2011
A polícia afirmou nesta terça-feira que um policial militar coordenava uma quadrilha suspeita de envolvimento com os recentes ataques a caixas eletrônicos na Grande São Paulo. Neste mês ocorreram mais de 20 roubos e furtos. A onda de arrombamentos, que são feitos com o uso de maçaricos ou explosivos, tem levado comerciantes a desativar os terminais.
De acordo com o diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado), Nelson Guimarães, mais de cem pessoas são suspeitas de integrar quatro grupos organizados que executaram os ataques e também outros tipos de assaltos.
Entre os investigados estão policiais militares, que atuam no esquema acobertando a ação dos criminosos. Hoje foram presos quatro PMs, um ex-PM e outros dois homens suspeitos de integrar uma das quadrilhas.
"É uma imensa rede. As quadrilhas não são isoladas, elas interagem. Há muita gente a ser investigada e presa ainda. Hoje foi só a ponta do iceberg", disse o delegado. Ele afirma que desde o início das investigações, há dois meses, 26 pessoas já foram presas --sete delas policiais.
Entre os presos de hoje, segundo Guimarães, estão dois chefes do grupo: o soldado João Paulo Vitorino de Oliveira e André Luiz Gejuiba Leite, o Andrezinho.
O soldado foi descrito como uma espécie de coordenador das ações da quadrilha. "Ele orientava a quadrilha sobre o que fazer, onde atacar", disse Guimarães.
O policial também é investigado por envolvimento, além dos ataques a caixas eletrônicos, em diversos outros casos recentes. Entre eles estão a morte de um PM na avenida do Cursino (zona sul); o assalto ao apartamento de uma aposentada no Bom Retiro (centro); e o tiroteio na região do parque Ibirapuera (zona sul) que resultou na morte de três pessoas --entre elas um vendedor de milho.
Já Andrezinho é apontado como o homem que planejava os crimes e "contratava" os outros suspeitos para a ação. Ele foi preso em um prédio de luxo próximo da rodovia Raposo Tavares.
BUROCRACIA
Segundo Guimarães, a investigação da polícia havia colhido material suficiente para que fossem concedidos ao menos 70 mandados de prisão e 70 de busca e apreensão, mas culpou "a burocracia" por ter conseguido apenas seis de prisão e 12 de busca.
Ele evitou criticar a Justiça pela dificuldade na obtenção dos mandados, mas afirmou que foi preciso a intervenção do secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, para que os ordens judiciais fossem expedidas.
Durante as investigações, ainda segundo o delegado, foram gravadas conversas entre os criminosos autorizadas pela Justiça. Há relatos da detonação de explosivos, indicações de que guarnições da PM haviam liberado áreas para assaltos e até brigas entre os próprios criminosos.
O subcorregedor da Polícia Militar, coronel Edson Silvestre, afirmou que os policiais presos têm entre 9 e 24 anos de serviços à corporação. Eles estão sendo ouvidos no Deic e serão encaminhados ao presídio Romão Gomes. Eles responderão a processo que pode levar à expulsão.
"É inconcebível a presença de PMs na prática de qualquer delito. Não pode um PM praticar os atos que justamente deveriam coibir", disse.
A reportagem não teve acesso à defesa dos presos.
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